A Igreja Universal do Reino de Deus foi condenada na Justiça na última semana por se recusar a devolver bens doados por um membro de sua comunidade. A gaúcha Carla Dalvitt afirma que a igreja realizou uma “lavagem cerebral” que prejudicou sua vida e a deixou endividada.
Carla diz que foi coagida a doar tudo o que tinha, carro, móveis, jóias, computador, celulares, fogão, aparelhos de ar condicionado e até um colchão por medo de ser castigada. “Eu fiquei na dúvida, pensei em desistir. Mas eles sempre falavam que tinha uma maldição para quem prometeu e não doou, que a pessoa ia ser amaldiçoada”, explica, em entrevista à BBC Brasil.
Doações
A mulher conta que começou a frequentar a igreja depois de ver pastores pela TV, em um momento em que enfrentava problemas financeiros. “Eram mensagens positivas, de esperança, prosperidade. Tinha muitos depoimentos de gente que falava que tinha saído de crise, gente que dizia que devia à igreja tudo o que tinha”, explica. Ela então começou a fazer pequenas doações, mas os valores logo aumentaram. “Eles diziam que você tinha que dar 10% de tudo o que você ganhava, e que tudo o que você desse, ia receber de volta. O problema é que tinha um evento especial, a Fogueira Santa, onde as pessoas iam e doavam casa, carro. E eu não sei o que me deu…Eu estava desesperada”, declara.
As doações foram feitas sem o conhecimento família, incluindo o próprio marido de Carla, que não concordou com a atitude da esposa “Quando eu cheguei em casa, que meu marido descobriu, me deu um chacoalhão, eu acordei”, conta. “Era como se eu tivesse sofrido uma lavagem cerebral. Como se tivesse uma nuvem preta sobre minha cabeça, e quando meu marido conversou comigo ela foi embora. Me senti muito mal“, aponta.
Os dois se dirigiram à igreja para tentar recuperar o que havia sido doado, mas só conseguiram o colchão, um fogão e outros itens de cozinha recém comprados pela mãe da fiel. O restante não foi devolvido.
Com a negativa, a gaúcha decidiu registrar um boletim de ocorrência e entrar com uma ação contra a instituição religiosa. Além dos valores dos itens doados, ela pediu uma indenização por danos morais. Segundo a mulher, além do prejuízo financeiro houve outras consequências: com dívidas, ela teve que fechar a loja que possuía e sofreu discriminação por parte dos moradores de sua cidade.
Em 2012, a Justiça condenou a Universal a pagar uma indenização de R$ 20 mil, além de devolver os bens. Para o tribunal, a entrega de bens como celulares e aparelhos de ar condicionado configuram coação moral irresistível” e “abuso de direito”.
A igreja recorreu e o caso foi para o Superior Tribunal de Justiça, que negou um recurso da religiosa. O caso, no entanto, ainda não chegou ao fim, já que cabem novos recursos.
Questionada, a IURD preferiu não comentar o caso, mas informou que o dízimo e todas as doações recebidas pela Universal seguem orientações bíblicas e legais, e são sempre totalmente voluntários e espontâneos”.
Da redação do BLOG do Emanoel Cordeiro/Yahoo Notícias/Chello Fotógrafo/Futura Press