A Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se manifestou, nesta quinta-feira dia 22 de outubro, sobre os comentários do Papa Francisco defendendo uniões civis homossexuais.
Segundo a entidade, a fala demonstra “humanidade”, mas “não muda em nada do ponto de vista doutrinal ou dogmático sobre a família”. Segundo a igreja, o matrimônio só pode ocorrer entre homem e mulher.
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Os comentários do Papa foram feitos em um documentário e vieram a público na quarta (21). No filme, ele disse que “pessoas homossexuais têm direito de estar em uma família” e defendeu a criação de leis de união civil para garantir o direito dos casais homoafetivos.
A nota divulgada pela CNBB nesta quinta é assinada pelo bispo Dom Ricardo Hoepers, presidente da da comissão. No texto, ele afirma que “o Papa Francisco mais uma vez demonstra sua serenidade, voltando-se também às questões reais da vida cotidiana. Ele tem uma sensibilidade pastoral tão aguçada que nos impressiona com seu nível de humanidade”.
“A fala em questão trata-se de uma palavra em um documentário e, portanto, o Papa fala com o coração aberto sobre os reais sofrimentos das pessoas de condição homoafetiva. Em uma sociedade que exclui com preconceitos e violência, é uma fala sobre dignidade e, acima de tudo de respeito que devemos ter para com todas as pessoas”, diz a nota.
Na nota, o bispo também diz que o Papa Francisco se tornou “a voz dos que se tornaram invisíveis nas periferias geográficas e existenciais”, e citou que as pessoas LGBT devem ter leis que as protejam. “No caso das pessoas em condição homoafetiva, muitas delas são abandonadas pelas suas famílias, discriminadas pela sociedade, e à margem dos direitos de ter uma cidadania respeitada.
A realidade da discriminação também pode levar à violência e à exclusão social. Portanto, diante desses perigos, o Papa entende que uma lei deve buscar garantir a seguridade que toda pessoa merece ser cidadão de direitos.”Porém, ao fim do texto, o presidente da Comissão para Vida e Família da CNBB diz que a fala, no contexto do documentário não altera o conceito da igreja católica sobre a família. Segundo a nota, o próprio Papa Francisco reforçou as diretrizes de que o matrimônio deve ser entre homem e mulher.
“O Papa Francisco já realizou dois Sínodos e escreveu uma Exortação Apostólica pós-sinodal chamada Amoris laetitia – sobre a alegria do amor na família. Esse documento afirma que continuamos a caminhar em pleno acordo com a Tradição da Igreja sobre a sacralidade do Matrimônio e sua dignidade no plano de Deus: ‘O matrimônio cristão, reflexo da união entre Cristo e a Igreja, realiza-se plenamente na união entre um homem e uma mulher, que se doam reciprocamente com um amor exclusivo e livre fidelidade, se pertencem até a morte e abrem à transmissão da vida, consagrados pelo sacramento que lhes confere a graça para se constituírem como Igreja doméstica e serem fermento de vida nova para a sociedade (Amoris laetitia, n. 292)'”.
A fala do Papa Francisco veio a público após a estreia do documentário “Francesco”, do diretor Evgeny Afineevsky, no Festival de Roma. No filme, ele afirma que “as pessoas homossexuais têm direito de estar em uma família. Elas são filhas de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deverá ser descartado ou ser infeliz por isso”. “O que precisamos criar é uma lei de união civil. Dessa forma eles são legalmente contemplados. Eu defendi isso”, diz. Segundo o jornal argentino “La Nación”, o filme mostra um italiano gay que vive em Roma. Ele tem três filhos, e relata que uma vez escreveu ao papa e pediu para enviar suas crianças à paróquia, mas que tinha receio de que as crianças fossem discriminadas.
O homem afirma que o Papa Francisco o incentivou a mandar os filhos à Igreja e nunca disse qual era a opinião dele sobre a família formada por pais gays e que, apesar de a doutrina não ter se alterado, a maneira de lidar com o tema mudou radicalmente.
O Papa Francisco já demonstrou ter interesse em dialogar com católicos LGBTIs, mas geralmente suas mensagens são a respeito de acolher esses fiéis. Ele já deu sinais velados que poderiam ser interpretados como uma opinião favorável à união civil.
Quando Cristina Kirchner era a presidente da Argentina, o país legalizou o casamento gay. Na época, ele ainda não era o papa, mas, sim, o cardeal Jorge Mario Bergoglio.
Segundo um texto de 2014 da agência “Religion News Service” (RNS), Bergoglio chegou a dizer que estava aberto a aceitar a união civil como uma alternativa ao casamento entre pessoas do mesmo gênero.
Filipe Domingues, vaticanista com doutorado pela Universidade Gregoriana de Roma, explica que quando ainda era cardeal, Bergoglio era a favor da união civil de pessoas do mesmo sexo: “Ele é contra o ‘casamento gay’ mas concorda que pessoas em união estável têm direitos. Isso não é novo. Mas declarou isso em documentário, como Francisco, pela primeira vez”.
Domingues ainda aponta que o papa foi mais explícito agora ao falar de “ser parte de uma família”. “Isso é importante”, destaca.
Em 2014, o Papa Francisco deu entrevista ao jornal “Corriere della Sera” na qual disse que a Igreja ensina que casamento é entre um homem e uma mulher. Segundo a agência RNS, ele disse que entende que governos queiram adotar a união civil para casais gays por razões econômicas.
Segundo o “Corriere della Sera”, o papa disse que “é preciso considerar casos diferentes e avaliar cada caso em particular”.
O Vaticano então clarificou que Francisco falava de forma genérica e que as pessoas não deveriam interpretar as palavras do papa além do que elas dizem, segundo a RNS.
Da redação do BLOG do Emanoel Cordeiro – Radar de Notícias/G1