O primeiro estudo clínico do País a testar o uso da hidroxicloroquina para tratamento de infecção pelo coronavírus terá seus resultados divulgados em dois ou três meses e envolverá 1,3 mil pacientes e 70 hospitais.
A iniciativa, batizada de Coalizão Covid Brasil, será coordenada pelos Hospitais do Coração (HCor), Albert Einstein e Sírio-Libanês em parceria com a Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet) e o Ministério da Saúde. O laboratório EMS participará das pesquisas com a doação de parte dos medicamentos que serão utilizados na investigação.
Os cientistas dividiram o projeto em três pesquisas. Nas duas primeiras, a hidroxicloroquina será testada sozinha ou em conjunto com um antibiótico. Na terceira pesquisa, o teste será feito com dexametasona, anti-inflamatório corticoide. Os três estudos serão feitos simultaneamente e avaliarão o resultado dos remédios em pacientes com diferentes níveis de gravidade.
O primeiro projeto de pesquisa será voltado para pacientes internados, mas que não precisam de altas doses de oxigênio nem ventilação mecânica. Os 630 participantes dessa fase serão divididos em três grupos: um deles receberá somente a hidroxicloroquina, o segunda receberá o mesmo remédio associado ao antibiótico azitromicina e o terceiro será o grupo controle, que não receberá nenhuma dessas medicações. “Nesse caso, vamos avaliar se a medicação acelera a melhora e previne complicações no caso de uma infecção”, explica Alexandre Biasi Cavalcanti, superintendente de pesquisa do HCor.
O segundo estudo será feito com 440 pacientes com quadros mais graves, que precisam de algum tipo de suporte respiratório. Eles serão divididos em dois grupos: o que receberá somente a hidroxicloroquina e o que será tratado com a combinação dos dois remédios testados no primeiro grupo. A ideia é saber se a hidroxicloroquina tem eficácia no tratamento da infecção e se seus efeitos podem ser potencializados com o uso conjunto com a azitromicina.
Já a terceira pesquisa terá como alvo 284 pacientes em estado crítico, que precisam de ventilação mecânica invasiva (intubação). Estes serão divididos em dois grupos: metade receberá a dexametasona e o restante não tomará a medicação, ficando apenas com as medidas padrão de suporte respiratório.
“As duas primeiras já receberam o aval da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) em tempo recorde. Os protocolos ficaram prontos no fim da semana passada e foram aprovados em poucos dias”, destaca Otávio Berwanger, diretor de pesquisas clínicas do Einstein. Os pesquisadores contam que ao menos 35 hospitais já foram habilitados para participar do estudo e esperam que esse número chegue a 70.
Remédios a base de cloroquina têm registro há anos no Brasil para tratamento de doenças como artrite, lúpus e malária, mas ganharam destaque nos últimos dias após testes preliminares feitos por chineses e sul-coreanos mostrarem que as drogas são efetivas em limitar a replicação do novo coronavírus in vitro e provocar melhoras em pacientes tratados com o remédio.
Os testes internacionais, porém, foram feitos com um número pequeno de participantes, o que faz com que as evidências científicas sejam pouco robustas. Mesmo assim, diante da falta de uma medicação específica para a covid-19, hospitais brasileiros já estão oferecendo o remédio de forma compassiva a pacientes em estado crítico. Esse tipo de uso ocorre quando uma droga pode ser utilizada mesmo sem estudos suficiente, contanto que em casos de pacientes graves, sem outras opções terapêuticas.
Da redação do BLOG do Emanoel Cordeiro – Radar de Notícias/IstoÉ